sexta-feira, 1 de abril de 2011

Despedida de um forrozeiro querido: Álvaro Louzada

Álvaro Louzada - *22/05 - T 01/04/2011
















Eu o vi pela primeira vez no Festival de Itaúnas de 2007. Lá no Arena, ele estava de blusa colorida, bem bonito, assistindo ao show sozinho. Não tive coragem de falar com ele. No Réveillon de 2007/2008 fui para Caraíva e lá fui apresentada a dois baianos muito simpáticos. Ele era um deles, o mais divertido. Dançava xote de nariz colado com todo mundo, dava medo. Mas, por mais colado que estivesse, a dança era extremamente respeitosa.

Naquela viagem, fiz um grande amigo. Engraçadíssmo, ele não parava de cantar ou recitar letras de músicas - quanto mais antigas melhor. Qualquer palavra que alguém dissesse lhe fazia lembrar-se de uma canção. Foi ele que me ensinou que os índios de Caraíva adoravam canetas e que trocavam qualquer coisa por elas. Ganhei brincos e colares lindos nessa brincadeira. Foi ele também que me ensinou a dar passos mais leves quando dançava. Ele era imbatível, o melhor.

Finda a viagem, ele voltou para Salvador e eu para Brasília. Nos encontramos em alguns festivais e em uns papos rápidos no MSN. Um tempo depois ele disse que se mudaria para São Paulo, lugar onde eu também sonhava morar. E em 2010 – vejam como são as coisas – era eu que me mudava pra terra da garoa. E a vida nos aproximou de novo. Nesse último ano de convivência mais intensa, ele passou a me chamar de Caitano e eu o chamava de Louzada.

E essa amizade de sobrenomes passou pelo forró, por almoços muito divertidos no SESC, por passos forrozeiros arriscados num samba, por uma viagem a trabalho para o Rootstock – quando eu o vi nervoso de verdade pela primeira vez, e até assim ele era engraçado. Por causa de seu hábito de ficar arrastando os pés para um lado e para o outro, como se dançasse mesmo sem música, eu e a Cabeluda cantávamos pra ele “pezinho pra frente, pezinho pra trás”, como uns personagens da TV faziam. E como não se lembrar dele falando “uuuu sabor da Bahia!”?

No último carnaval, fui trabalhar na cobertura da folia soteropolitana. Lá, em sua terra, eu o vi pela última vez. Eu estava sozinha até então, mas o encontrei trabalhando, por acaso, no mesmo camarote. Em uma noite, depois de trabalhar muito, ele me acompanhou, a pé, até um camarote que era bem longe. Juntos, fomos rindo das fantasias dos outros, das músicas, seguindo discretamente o trio do Timbalada. Ele me protegeu, me puxou para não correr riscos, cuidou de mim, como um verdadeiro amigo.

Chegando lá, ele entrou sem convite, usando uma credencial de imprensa que nem era dele. Rimos e dançamos juntos por alguns minutos quando o Harmonia do Samba passou tocando uma música antiga do É o Tchan. Tive que ir embora, ele ficou mais um pouco até dar o horário do ônibus passar. E assim nos despedimos e não nos vimos mais. Na noite da última terça-feira, ele me mandou um e-mail pedindo ajuda para um trabalho. De madrugada, enquanto eu respondia o e-mail cheio de gracinhas, ele sofria um grave acidente de moto.

Eu não consegui me despedir de verdade. Não deu tempo de ir ao hospital. Na noite passada, por volta de 1h da manhã, antes de dormir, eu rezei por ele e me esforcei para imaginar a cena em que eu o visitaria com flores nas mãos e ele, rindo, careca por causa da cirurgia, dizia que já estava tudo bem. Mas meu coração não acreditava no que eu queria acreditar. E fui dormir preocupada.

Meu amigo querido, inesquecível, divertido, foi embora na madrugada desta sexta-feira, dia 1 de abril, exatamente por volta de 1h da manhã. Depois de lutar pela vida, ele resolveu ir dançar forró ao som de Luiz Gonzaga, Mestre Zinho, Marinês... Foi levar sorrisos e alegria para o andar de cima. E com a gente ele deixou saudades sim, mas muito mais alegria, que era o que ele tinha de sobra.

Siga em paz, amigo. Seja feliz e fique tranquilo por saber que você deixou um rastro de luz entre nós. Todos somos mais felizes por termos convivido pelo menos um pouquinho com você. Até breve.

8 comentários:

Unknown disse...

Lindo texto Dri! Me emocionei aqui.. Principalmente na parte que vc lembra de algo que ele aprendeu comigo.. Uh sabooor da bahia.. Na epoca eu falava isso a cada 5 palavras..rs E ele notou.. Assim como eu chamava todo mundo de cabeça, ele tb notou..rs Desde aquela epoca ele passou a me chamar de cabeça e a olhar pra mim qnd falava "uh saboor da Bahia"..rs Ele mudou pra Sampa e a vida seguiu.. Mas a gente vai lembrar, por muito tempo..

Fê Nogueira disse...

Bom sujeito. Que descanse em paz.

Unknown disse...

Perfeito o seu texto... nao poderia ter detalhado melhor o nosso grande amigo. A medida que ia lendo ia compartilhando do mesmo pensamento.. tudo igualzinho como ele fazia.. e doeu mais...
A gente sempre sabe que a unica certeza que nós temos é a morte, mas nunca a aceitamos... mais dificil é quando alguém fura a fila e chega na frente quando merecia ainda ficar entre a gente compartilhando sua energia sempre positiva, sua transparencia, seu respeito com o ser humano...mas os planos divinos a gente desconhece e como disse um amigo nosso em comum: "hoje descobri o quanto podemos amar um Amigo".
Bjoo

Unknown disse...

Como a vida surpreende a gente. Reconheci a foto de Alvaro e por curiosidade fui ler o texto. Fiquei triste ao saber do seu falecimento, pois apesar do pouco tempo de contato, viajamos durante 1 semana e não tinha como esquecer aquele forrozeiro que dançava ate sozinho e sem som! Que descanse em paz!!!

Unknown disse...

Irmão, eu simplesmente te amo muito!!!! Só Deus sabe a Dor que estou sentindo neste momento!!! Obrigado a todos os amigos e conhecidos que estão dividindo essa dor conosco, está sendo muito difícil perder alguém tão lindo assim! Mas Deus não nos dá nada que não podemos suportar! Esse é o meu refúgio! E lembrar que foi eu que o levei pro forró e ele não sabia fazer um passo!!! Como meu irmão me surpreendeu!!! Te amo pra sempre!!!

Talise disse...

Energia positiva é a primeira coisa que me vem a cabeça ao lembrar dele. É com essa enegia positiva que eu desejo que ele pecorra essa passagem!!!Siga em Paz Álvaro!

Romário disse...

Não a conheço pessoalmente, a não ser por aqui, por suas postagens, (atualizações, comentários, convites, etc.) e também não o conheci. Entrei na página para ouvir o legítimo pé-de-serra, saudando a vida, a sexta-feira, descanso (e farra do fim de semana). Comecei a ler e li até o final. Dá pra perceber o quanto eram amigos e a importância que ele teve pra vc e seus amigos. É qdo dá vontade de falar a todos que conhecemos, amamos, gostamos, simpatizamos, o qto cada um é importante pra nós. Mas, é assim, na maioria das vezes, não conseguimos nos despedir daqueles que não veremos mais (ao menos agora, da forma como estamos acostumados, nesse plano, ou sei lá mais o quê...) Mas, afinal, pra que despedidas? Sempre estamos (e estaremos) juntos (de uma forma ou de outra) daqueles que amamos! Vida que segue... (SEMPRE)! Paz e conforto ao coração de todos!

Alexandre (Negão) disse...

Deus sempre sabe o que faz, talvez sua missão aqui entre nos tenha sido finalizada,Mas Tão Jovem assim??? talvez por ser uma pessoa tão prestativa e companheira precisaram de tu lá em cima. Siga em paz amigo. Deixando saudades aos colegas e amigos de Vilas (tempo bom)
À suas irmãs Talita e Poliana e seus Pais meus pesares.