domingo, 29 de novembro de 2009

E eu com isso?

Peço licença para falar rapidamente de um assunto que pode não ter nada a ver com forró, mas tem a ver com Brasília:

Muita gente não percebeu, mas, desde sexta-feira, paira no céu brasiliense uma nuvem negra de incertezas, dúvidas, denúncias e intrigas. Não sei quem está certo ou errado, não quero fazer juízo de valor nem levantar bandeiras. Mas é preciso que todos que vivem nesta cidade ou aqueles que se importam de alguma forma com o futuro do país prestem bastante atenção no que está acontecendo na capital.

A Polícia Federal deflagrou nesta sexta uma operação chamada Caixa de Pandora, que investiga um suposto esquema de distribuição irregular de recursos do Governo do Distrito Federal a deputados e aliados políticos. Não caiam na roubada de pensar "não tenho nada com isso", nem saiam apontando o dedo sem entender do que se trata. Informem-se sobre o assunto nos sites, na tv, no rádio, nos jornais, e tirem suas próprias conclusões (sugiro pelo menos o site do IG, o Blog da Paola e a Agência Brasil).

Da minha parte, peço apenas que leiam a crônica da jornalista Conceição de Freitas que saiu hoje no Correio Braziliense. Sem citar nomes, ela nos lembra o quanto o poder na mão de um homem, qualquer um, de qualquer partido, pode ser perigoso. Vale a pena refletir:

Invadindo consciências

Por Conceição Freitas
conceicaofreitas.df@dabr.com.br

O anjo obsessivo e sábio cantou a pedra desde o começo: Em Brasília, não há inocentes. Somos todos cúmplices, citação de Nelson Rodrigues que já repeti neste pé de página uma meia dúzia de vezes. Não houve melhor definição do que é a Brasília capital do poder.

Delfim Neto disse a mesma coisa de outro modo, em depoimento a Ronaldo Costa Couto, no Brasília Kubitschek de Oliveira, também aqui reproduzido em outras ocasiões: “Brasília virou uma corte. Brasília é um a sociedade endogâmica, que casa entre si os seus filhos. Vai ser muito difícil arejá-la, porque todo mundo é parente. Eu aprendi: aqui, em nenhuma mesa de almoço ou jantar você pode falar mal de alguém. Sempre que você está conversando com um sujeito, ele é um primo, um irmão, um sobrinho, um cunhado, um amigo da amante de alguém…”

Brasília é um ovo. O poder concentrado entre dois eixos cruzados em cruz e abraçados por um lago artificial, afastado do restante do país por léguas e légu as de cerrado, facilitou as tramóias, deu passe livre para a corrupção.

Vivemos em casas geminadas com o poder. Tão próximo, tão sedutor, tão irresistível, o poder transborda os seus limites e vai invadindo consciências, alterando valores, iludindo os bem intencionados, pavoneando todos os que não se contentam com nada que não seja tudo. O poder está à mão, ao telefone, o poder está na casa do vizinho, nas festas megalomaníacas, nas facilidades oferecidas com um sorriso cordial, na tro ca de favores que põe todos na roda.

Doce ingenuidade a de Juscelino, Sayão, Lucio e Oscar. Juntaram os brasileiros num só território, entremearam a Nação a partir de seu ponto mais central, mas inventaram uma cidade administrativa que isolou o poder — esse instrumento que precisa ser vigiado ininterruptamente. O melhor dos homens piora quando ganha poder. É preciso ter domínio sobre as próprias fraquezas para ser poderoso sem se perder no poder.

Brasília foi construída na lâm ina cortante das contradições. Ela existe porque o Estado assim o quis, mas nasceu do desejo de mudar as relações sociais. De aproximar ricos e pobres, de dar aos dois as mesmas condições de vida na cidade.

Nasceu para ser exclusivamente a sede do poder federal, espécie de cidade proibida. Ilhada em imensos vazios, virou-se contra os ideais que a fundaram. Terra de ninguém, lugar de forasteiros, Brasília passou a ser, desde o começo, o território de quem quer se dar bem. À exceção da meia dúzia de idealistas que veio para a invenção de Juscelino apostando num projeto de mudança de mundo, toda a gente que aqui aportou veio em busca de prosperidade. Bastante legítimo, mas a cidade isolada era (e continua sendo) perigosamente permissiva.

Em Brasília, todos somos cúmplices. O caldo sedutor do poder avança pelas frestas das consciências, atordoa princípios, estimula ambições, deteriora princípios. Transforma todos em iguais, iguala todos por baixo. Não é fácil escapar dessa trama."

2 comentários:

nilson araujo disse...

O grande problema é: Impunidade. O Brasil, hoje, é um mar de lama... de impunidade. O José Arruda já esteve envolvido em tramóias e por uso da lei (só a favor dos safados) renunciou e o pior veio depois: Eleito governador. O povo coloca no poder um cara que, diante das câmera mentiu (pra dizer pouco) desavergonhadamente, descaradamente. Dizer mais o que? Esperar mais o que? E não é só em Brasilia, não. As imagens que ví ontem à noite, são claras. Os caras estão recebendo dinheiro vivo. às escondidas. Pra fazer caridade, eles dirão.
Essa praga se alastra por todo o país. Infelizmente.
Viva o povo brasileiro!
Um dia ele se conscientiza e manda
pras cucuias esses safados.

palha disse...

E viva o panetone!!!

Caras de pau!!!

pior é quem vota nesses safados sabendo quem eles são.